As relações entre Brasil e China são antigas e sólidas. O relacionamento diplomático teve início ainda nos anos 70 e, desde então, só se fortaleceu. A área comercial é um dos pontos fortes da aliança. Para se ter uma ideia, de acordo com dados da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Mapa (SCRI), entre julho de 2023 e julho de 2024, o país asiático foi o principal destino das exportações brasileiras do agronegócio, totalizando mais de 57 bilhões de dólares – o recorde foi registrado em 2023, com 60 bilhões de dólares em exportações.
E se as cifras obtidas da relação entre os dois países já indicavam, no mínimo, um “namoro promissor”, a era Trump de incertezas os empurrou de vez para um noivado irreversível.
Desde o fatídico 2 de abril, batizado pelo presidente dos Estados Unidos como “Dia da Libertação”, tanto as potências globais como as emergentes empreenderam uma corrida desesperada para tentar sobreviver ou driblar as sanguinolentas tarifas de importações impostas pelos ianques. No caso da China, chegou a ser cômico de se ver. Diariamente, o gigante asiático anunciava o aumento das tarifas sobre produtos americanos em resposta a Trump, que rebatia e voltava a subir as taxas sobre as importações chinesas.
O “laranjão” dos EUA foi aumentando sua aposta irrefreavelmente, na esperança de que os chineses se curvassem. Não aconteceu. O presidente norte-americano, então, cedeu e procurou a China para negociar. Tarde demais. Brasileiros e asiáticos já se engalfinhavam comercialmente em um tórrido início de intensificação de relações.
Com a tentativa dos chineses de obter uma alternativa para repor parte do que compravam dos norte-americanos, os produtos made in Brazil ganharam um destaque como nunca antes visto. Ao mesmo tempo, especialistas garantem que os brasileiros não vão escapar de verem duplicar, ou até triplicar a quantidade de produtos chineses em circulação no país.
E engana-se quem acha que as parcerias ficarão somente na troca de produtos. Na última semana, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou que é de interesse da China “rasgar” o Brasil com ferrovias. “Já estamos tratando disso com a China desde o primeiro mês do governo Lula. Na primeira reunião com o presidente Xi Jinping, percebi que eles estão muito interessados na questão das ferrovias. Eles querem rasgar o Brasil com ferrovias. Não existe dinheiro público suficiente para fazer isso, é muito caro”, disse a ministra em entrevista à revista Carta Capital.
Outra parceria que chamou atenção foi a da brasileira XBRI Pneus e a chinesa LingLong. A empresa asiática confirmou o investimento de 6,2 bilhões de reais em uma fábrica em Ponta Grossa, no Paraná, com capacidade de produção de 15 milhões de pneus por ano. O valor, conforme apurado pela imprensa nacional, é quase cinco vezes superior ao anunciado no ano passado. Na época, a expectativa era a de que a unidade seria erguida apenas com recursos da XBRI.
As colaborações Brasil-China chegaram, inclusive, em patamares de prevenção coletiva. Também na última semana, os dois países assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) para fortalecimento da cooperação técnica na gestão de riscos e emergências. Para o governo federal, o acordo assinado em Brasília “marca mais um avanço na relação bilateral estratégica entre os dois países”.
“A relação entre o Brasil e a China está em seu melhor momento da história”, disse o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes.
Motivo de celebração para alguns, tragédia para outros, o fato é que Brasil e China já trocaram seus anéis de noivado, selando um relacionamento que não dá sinais de findar.