Por Fernanda Ghazali*
Um estudo publicado na revista Science revelou que as megassecas, eventos de estiagem prolongada com duração mínima de dois anos, estão se tornando cada vez mais intensas e frequentes em diversas partes do mundo. A pesquisa analisou dados entre 1980 e 2018 e identificou mais de 13 mil ocorrências desse fenômeno, que pode ter impactos devastadores para ecossistemas e populações. De acordo com o alerta mais recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM), a tendência de agravamento deve continuar.
Diferentemente de secas comuns, que podem ocorrer de forma sazonal, as megassecas representam períodos irregulares prolongados, afetando grandes áreas e provocando deficits hídricos. Segundo Simone Fatichi, pesquisador da Universidade Nacional de Singapura e autor da pesquisa, esses eventos não são apenas uma ausência de chuvas, mas um conjunto de fatores que incluem aumento da demanda atmosférica por água e elevação das temperaturas globais.
Esse cenário intensifica os impactos da estiagem, resultando em rios secos, dificuldade de abastecimento urbano e maior vulnerabilidade dos biomas a queimadas. A pesquisa também destaca que, em regiões mais quentes, a falta de precipitação tem consequências ainda mais graves, enquanto em áreas frias, a maior perda de água para a atmosfera agrava o deficit hídrico.
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O Brasil aparece duas vezes no ranking das dez secas mais severas registradas no período. A Amazônia Sul-Ocidental — que engloba parte dos estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, além de territórios da Bolívia e Peru —, enfrentou um longo período de estiagem entre 2010 e 2018. Essa seca intensa, colocada em 7º lugar no estudo, provocou a redução drástica do volume de rios importantes, como o Madeira, Negro e Solimões. Comunidades ribeirinhas ficaram isoladas, e o estresse hídrico na vegetação tornou a floresta mais suscetível a incêndios.
Outro episódio de grande impacto ocorreu no Sudeste, entre 2014 e 2017. Considerada a nona megasseca mais severa do mundo, atingiu os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O Sistema Cantareira, que abastece milhões de pessoas na Grande São Paulo, chegou a operar com o volume morto em 2015, enquanto reservatórios de Minas Gerais e do Rio de Janeiro atingiram níveis críticos. A crise afetou tanto o abastecimento urbano quanto a geração de energia, já que a região abriga importantes usinas hidrelétricas.