O presidente Lula recebeu nesta sexta-feira (6), em Paris, o título de Doutor Honoris Causa concedido pela Universidade Paris 8. A cerimônia, realizada na sede da instituição em Saint-Denis, região metropolitana da capital francesa, foi marcada por discursos emocionados, simbolismo político e reconhecimento a uma trajetória marcada pela defesa da educação pública e inclusiva.
“O reconhecimento é muito mais uma homenagem à capacidade de resistência do povo brasileiro do que a qualquer outra coisa que eu tenha feito no meu país”, afirmou o presidente.
A Universidade Paris 8 foi fundada em 1969, como desdobramento das mobilizações estudantis de maio de 1968. Reconhecida por seu caráter progressista e democrático, é voltada para as ciências humanas e sociais e mantém forte vínculo com imigrantes, trabalhadores e grupos historicamente marginalizados.

A escolha da instituição para prestar a homenagem ao líder brasileiro se alinha aos princípios que marcam sua trajetória política.
“A educação como ferramenta de emancipação”
Em seu discurso, Lula relembrou os valores que nortearam sua vida e reforçou o papel transformador do ensino.
“A homenagem de hoje não é apenas um reconhecimento pessoal. É um reencontro com valores que moldaram minha vida: a justiça social, a educação como ferramenta de emancipação e o compromisso com os que sempre tiveram de lutar por voz e por espaço”, disse.
O presidente também destacou a origem da universidade que o homenageava. “Esta universidade nasceu da esperança e da coragem do povo francês, no calor das ruas de 1968. Construiu-se como resposta às exigências de uma juventude que sonhava com um mundo mais igualitário e um ensino mais acessível, crítico e conectado às realidades sociais.”
Transformações sociais e acesso ao ensino
Para o presidente da Universidade Paris 8, Arnaud Laimé, Lula representa um projeto político de profunda transformação social. Ele citou como exemplo o crescimento de universidades e institutos federais no Brasil, as políticas de financiamento e acesso ao ensino superior e a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa do governo brasileiro no G20.
Laimé presenteou Lula com um quadro representando folhas de jequitibá, árvore símbolo de longevidade e resiliência, comparando essas qualidades à trajetória do homenageado.
A professora Delphine Leroy, que também discursou na cerimônia, destacou parcerias com a Embaixada da França no Brasil para acolher doutorandos indígenas, iniciativa viabilizada por políticas de cotas e programas de mobilidade.
“A política de cotas que o senhor conseguiu impor no ensino superior permite esses encontros excepcionais que abrem os nossos espíritos e mexem com nossas representações”, afirmou.
“Só o conhecimento pode romper as correntes da desigualdade”
Lula defendeu a valorização da educação como instrumento para uma sociedade mais justa.
“Todos os anos, milhares de estudantes, pesquisadores, artistas e empreendedores circulam entre nossos países. Trocam ideias, constroem pontes e semeiam inovação”, disse.
Ele citou projetos como o programa de dupla diplomação com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a criação da primeira universidade afro-brasileira, no Ceará. “Só o conhecimento pode romper as correntes da desigualdade e construir sociedades mais justas.”
O presidente relembrou ainda iniciativas de seus mandatos, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o Programa Universidade para Todos (Prouni), o Pé-de-Meia e o fortalecimento da rede federal de educação técnica e superior.
Ressaltou que, apesar de o Brasil ter demorado a abolir a escravidão e garantir direitos como o voto feminino, as gestões do Partido dos Trabalhadores mudaram a cara do ensino superior.
“Foi preciso que um metalúrgico sem diploma universitário chegasse ao poder pelo voto popular para mudar essa realidade”, disse. “Nos governos do Partido dos Trabalhadores consolidamos um modelo de ensino aberto e inclusivo.”

Paris declara amor a Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi homenageado, nesta quinta-feira (5), pela Academia Francesa, em Paris.
“Considero essa deferência um reconhecimento ao Brasil e ao povo brasileiro, que recebemos com muita gratidão e orgulho”, escreveu Lula em publicação nas redes sociais.

A academia foi criada em 1635 e, em seus quase 400 anos de história, apenas outros 19 chefes de Estado foram homenageados em sessão oficial. Antes de Lula, o único brasileiro reconhecido pela honraria havia sido Dom Pedro II, em 1872. A instituição tem uma influência significativa na cultura francesa e, além de regulamentar a língua francesa, concede prêmios em diversas áreas.
Os membros da Academia Francesa examinaram a palavra “multilateralismo” – que pressupõe igualdade soberana entre as nações – em homenagem ao presidente brasileiro. O termo ainda não figura no dicionário da instituição.
“A grande inovação introduzida após 1945 está sintetizada no sufixo ‘ismo’, acrescentado à palavra multilateral. Essa terminação traduz a intenção não apenas de descrever uma realidade, mas de incidir sobre ela”, disse Lula em discurso na academia.
O presidente brasileiro é insistente na defesa do multilateralismo, ou seja, a interação na qual os países se reúnem para encontrar soluções coletivas para problemas comuns, em diversas áreas, como a urgência climática, o comércio global ou as guerras.
“O multilateralismo foi decisivo no processo de descolonização, na proibição de armas químicas e biológicas, na afirmação de direitos humanos, na promoção do livre comércio, na proteção do meio ambiente e na solução de diversos conflitos mundo afora. Infelizmente, estamos nos esquecendo dessas lições”, afirmou o presidente.
“É insustentável manter ilhas de paz e prosperidade cercadas de violência e miséria”, destacou Lula, ao citar os conflitos do mundo atual.
Para o presidente, é preciso aperfeiçoar as democracias no âmbito interno dos países e o multilateralismo no plano externo.
“São as duas faces de uma mesma visão de mundo, baseada no diálogo e no respeito à pluralidade”, disse.
Com informações da Secom, Mídia Ninja e Folha de S. Paulo