“Quando você não sabe bem o que está fazendo, faça bem devagar”, W.C.Brainard
Marcus Vinícius de Faria Felipe
Antônio Delfim Netto (01/05/1928-12/09/2024) foi economista, professor universitário ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura nos governos da ditadura, e por isso, está longe de ser acusado de ser esquerdista, embora fosse leitor da teoria econômica de Karl Marx, em O Capital.
Num de seus muitos artigos sobre economia, Delfim Neto criticou a política de juros altos do Banco Central, citando o axioma de Brainard:
“Quando você não sabe bem o que está fazendo, faça bem devagar”.
O princípio de Willian C. Brainard, economista e professor da Yale University (New Have,EUA), estabelece que, sob a presença de uma incerteza muito elevada, o gestor público deve caminhar na direção de suas metas, mas da maneira mais cautelosa possível.
O que vale para economia, certamente tem aplicação na administração.
O prefeito Sandro Mabel (UB) deveria ler com atenção os pressupostos do axioma de Brainard, e ajustar algumas linhas de sua gestão, de modo a acomodar expectativas e se aproximar ao máximo possível da realidade objetiva.
É comum empresários que assumem cargos na administração pública fazerem confusão entre o modelo privado e o modelo público de administração. A pressa por resultados no curto prazo costuma ser má conselheira para atingir os objetivos numa gestão pública, pois o que a sociedade espera da administração é solução duradoura de problemas, e não choques midiáticos.

Tomemos o caso da Comurg (Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia) como exemplo. A determinação do Executivo Municipal é um plano de demissão em massa de garis e outros colaboradores. A meta é atingir 629 servidores, que estão aposentados, mas ainda continuam na ativa.
A princípio parece uma solução lógica, uma vez que pela lei, os aposentados são mais fáceis de serem substituídos, uma vez que entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) advoga que os servidores aposentados de companhias estatais que se aposentaram depois da Reforma da Previdência feita em 2019 pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), perdem o vínculo com as companhias públicas.

Bingo! É só mandar embora os aposentados que todos os problemas da Comurg serão solucionados.
Só que não.
A Comurg foi estruturada para ser o órgão que faz a zeladoria de Goiânia, e nos seus 51 anos de existência criou rotinas e acumulou experiências que são imprescindíveis para a manutenção da limpeza, roçagem, jardinagem, limpeza de bueiros e córregos, iluminação pública e outros serviços. O maior capital da Comurg, portanto, não são maquinários, prédios e garagens, mas sim o material humano. Dentre estes 629 aposentados estão dezenas de garis, operadores de máquina, gerentes, motoristas, pedreiros, mestres de obra que conhecem a rotina, os problemas, os gargalos e as soluções no dia a dia da Comurg.
Jogar os aposentados para fora a Comurg, não é necessariamente e melhor solução, ao contrário, pode criar um problemaço para a administração da Capital, que já está mal na fita com os problemas na varrição, coleta de lixo e outros serviços de zeladoria.
A reengenharia já quebrou empresas de grande porte em Goiás como o Atacadão Boca Quente, que na decada de 1980, era ligado à antiga rede de supermercados Alô Brasil. Tiraram o “gênio da reegenharia” da lâmpada, e fizeram o corte dos maiores salários. Resultado: os gerentes do Boca Quente foram contratados pelo Armazém Martins, e Goiânia, que era o maior centro atacadista de secos e molhados do Centro-Oeste, perdeu o posto para Uberlândia (MG).
No Brasil grandes redes como a Sears Brasil, Casas da Banha e Loja Hermes foram para o vinagre após passarem pela reengenharia para “cortar custos com pessoal”.

Há que ser feito algo com a Comurg, mas que seja feito com cuidado. A companhia é o pulmão da administração da capital, e se retiram-lhe o ar, toda gestão pode ficar comprometida e ir para na UTI.
E não custa lembrar que o único prefeito de Goiânia que teve afastamento aprovado pela Câmara dos Vereadores foi Daniel Antônio (1985-1988), justamente porque não cuidou da zeladoria e a Comurg virou um caos, com lixo se amontoando em ruas e avenidas.