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A outra cara da velhice: o drama de familiares que se tornaram cuidadores dos próprios idosos

“Eu ajudo eles e acaba não sobrando hora para me ajudar”, disse Helena Urzeda, que cuida da mãe há cinco anos

Publicada em 04/05/25 às 07:41h - 16 visualizações

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A outra cara da velhice: o drama de familiares que se tornaram cuidadores dos próprios idosos
 (Foto: Rádio Rir Brasil - Itapuranga-Goias : Direção: Ronaldo Castro - 62 9 9 6 0 8-5 6 9 5 )

Dona Irenides precisa tomar remédios às “sete da manhã, onze horas, depois do almoço, três da tarde, depois cinco, sete horas e dez da noite”. A filha, Helena Urzeda, de 60 anos, sabe de cor quais e quantos remédios, nos horários corretos. A mãe, com 81 anos e os problemas no coração e a artrose, preenche os pensamentos do dia inteiro da filha. 

Com oito irmãos, Helena é a maior responsável pelos cuidados que a mãe necessita há cerca de cinco anos. Começou a levando aos médicos, até que a levou para casa. Nos últimos quatro meses, moraram juntas – mesmo que a idosa não reconhecesse a casa como sua. Nas palavras de Helena, Irenides estava morrendo quando deixou a casa onde morava, em Mato Grosso, para se instalar em Goiânia, aos cuidados dela.

“Eu virei mãe, não só dela, mas da família inteira. Eu não assumi esse papel, me impuseram esse papel. Eu comecei a levar [no médico] e foi ficando. E aí se outro familiar passa mal, liga pra mim. Acaba sendo muito desgastante, porque sobra pouco tempo para a gente. Toda hora alguém precisa. Eu ajudo eles e acaba não sobrando hora para me ajudar”, contou Helena. 

Ela disse que mudou toda a rotina da casa para adaptar ao ritmo da mãe. “Estava com almoço e jantar prontos antes do horário dos remédios, porque ela tinha que comer para tomar remédio. 21 horas todo mundo tinha que dormir, porque ela queria dormir”, disse Helena. “Quando ela vem [para Goiânia], ela já não está dando conta de andar, de tomar banho sozinha. Faz xixi na roupa”, contou. 

Helena é costureira de facção. “Os outros trabalham de carteira assinada e eu trabalho em casa. Eles acham que, por eu trabalhar em casa, eu não trabalho”, desabafou. Ela contou que, muitas vezes, deixava o trabalho para a noite ou fim de semana, quando a rotina de cuidados desacelerava e não precisava levantar tantas vezes da máquina de costura. “Quando dava, eu trabalhava, mas eu mudei minha vida toda. Eu não tenho salário. Se eu trabalhar, eu tenho dinheiro. Se não trabalhar, não tenho”, contou.

“A questão financeira foi a parte mais difícil, mas o que mais me afetou foi o cansaço emocional. E por fazer sozinha, porque não tinha ajuda de ninguém, nos primeiros dois meses foi difícil. Até depois fica o cansaço. A gente cansa, né? Por mais que a gente queira [ajudar], cansa”, disse Helena.

A velhice vem devagar, mas chega para todo mundo. Em Goiânia já são 216,5 mil idosos (pessoas com mais de 60 anos), de acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022. Isso representa 15% do total da população goianiense – um número que está em crescimento, comparado aos 9% do censo de 2010. 

“No fim, a gente sempre precisa de cuidado. Tem que ter muita paciência, muita resiliência, tem que ter amor, porque senão você não dá conta”, disse Helena. 

Até 2070, mais de um terço (37,8%) dos brasileiros serão idosos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os estudos também indicam que Goiás terá mais idosos do que nascimentos a partir desse ano.

Mudanças

Eva e Mislene de Souza no sofá de casa| Foto: Bárbara Ferreira/Jornal Opção

Do outro lado de Goiânia, a fisioterapeuta precisou repetir para Dona Eva parar o sobe e desce com a perna pelo menos duas vezes. Mesmo sem conseguir caminhar, as pernas não descansam e continuam o movimento até se tornar automático. Aos 73 anos, Eva Alves de Souza já teve quatro AVCs e conta com os cuidados das filhas todos os dias.

As cinco irmãs – filhas de Adão e Eva – dividem os R$ 600 em remédios todos os meses e pagam juntas. Uma delas mora com a mãe. Outra, Mislene de Souza, de 46 anos, só não dorme, mas passa o dia por conta dos cuidados. “Não é fácil. Eu vendo a situação dela, ela não fica em pé, né? Sabendo que a minha irmã não dava conta sozinha, então eu tive que mudar a minha vida”, contou Mislene, de olho em cada exercício.

As duas irmãs trabalham passando roupa e levaram o serviço para dentro de casa por serem as responsáveis pela mãe: dão os remédios (e se orgulham da diabetes controlada), comida, levam para a garagem para ‘assistir o movimento’. A fisioterapia quem paga é uma sobrinha, uma vez por semana. 

Mislene acha que o restante da família devia ajudar mais. “Todo mundo é muito distante. Aqui é só eu e minhas irmãs e os parentes não ajudam. Eu acho que quem não ajuda [financeiramente], eu acho que tinha que dar alguma coisa para ajudar a gente e não tem isso… aqui se falar isso, dá é briga”, disse.

A filha relata as saudades da Dona Eva: passar horas dançando forró e de ficar em pé na boca do fogão, “o sonho dela é andar de novo”, disse Mislene. O primeiro AVC que Dona Eva sofreu foi há 24 anos, o segundo foi durante a pandemia, e teve outros dois no último ano, quando deixou de sustentar o peso do próprio corpo e caminhar. 

“Eu sinto que eu tô revertendo o que ela fez por mim, mas não chega nem em 1%, ela fez muito mais. Tudo que eu faço para ela, eu acho que está pouco ainda, que eu devia tá fazendo mais. Eu tinha que fazer mais”, disse Mislene. 

Mesmo sabendo que a velhice alcança, ainda é notável o despreparo do município e o medo dos familiares em lidar com as doenças e com o retorno dessas pessoas à dependência. Precisam de cuidados. “Foi assim: só pelo impulso e Deus”, admitiu Mislene sobre as mudanças na própria vida e o preparo para assumir o papel de cuidadora.

A Creche

Desde quando estava em campanha, o atual prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, defende a criação de um Centro Municipal de Atenção aos Idosos (CMAI), apelidado de ‘creche para idosos’. No espaço, a terceira idade teria acesso a atividades de bem-estar e integração durante o dia, para depois retornarem às suas casas.

A ideia de Mabel ainda não saiu do papel. Com a mesma proposta, o Centro do Idoso do Vera Cruz, em Goiânia, faz um serviço de “fortalecimento de vínculos para pessoas idosas” e atende – em média complexidade – 117 pessoas. Fabiano Baptista, parte da diretoria do Centro, afirma que o centro do idoso deveria estar no mesmo grau de importância que as escolas, para a população, afinal, o país está envelhecendo. 

Centro do Idoso do Vera Cruz, em Goiânia | Foto: Arquivo pessoal

“O que a gente vai fazer? Onde esses idosos vão ficar? Qual o impacto na economia? Qual o impacto na previdência? Qual o impacto existe em moradia?”, questiona Fabiano sobre o envelhecimento do país. Ele defende os Centros enquanto alívio para as famílias. Por lá, os idosos passam o dia fazendo atividades, diferente de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs).

“Olha o drama que essas famílias estão vivendo. A família precisa deixar esse idoso não no fundo da casa, no quartinho, mas num ambiente de convivência onde eles vão conversar com pessoas da vivência deles, da história deles, da idade deles. Vão fortalecer esses vínculos sociais por meio de pessoas que são da mesma geração. A família é uma parceira nossa. Nós estamos cuidando dos avós, dos tios e pais deles”, explicou. 

No entanto, Fabiano repreende a escolha de termos do prefeito: “remete a etarismo, a infância. Sendo idoso, não é creche, não é escolinha. Não se pode diminuir a autonomia de um idoso colocando buchinhas, uns brinquinhos engraçados. Para o idoso, isso é até meio ridículo. Eles não gostam desse tipo de tratamento”.

“Os idosos têm autonomia de pensamento, não querem ser tratados como crianças. Eles querem ser tratados como pessoas idosas mesmo, que são dignas de cuidado, paciência e respeito. Nosso lema é: respeito não envelhece”, disse Fabiano.

O Centro é uma entidade sem fins lucrativos e sobrevive com eventuais recursos da Prefeitura – segundo Fabiano, nenhum decreto liberando esse dinheiro para o Centro foi assinado neste ano –  e com a ajuda da comunidade. Nos últimos meses, ele afirmou que estão “trabalhando no vermelho”, mas não podem parar.

Jornal Opção solicitou um posicionamento à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social, da Prefeitura de Goiânia, sobre o dinheiro do Fundo Municipal do Idoso, o projeto do CMAI e a possibilidade de chamamento público para destinar recursos a projetos de apoio aos idosos. No entanto, a secretaria não respondeu.

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