Emedebismo sempre foi maior que o caiadismo e terá a chance de mostrar sua força em 2026
Marcus Vinícius de Faria Felipe
O PMDB/MDB governou Goiás por 16 anos, e com a eleição de Ronaldo Caiado em 2018, pode considerar que ganhou mais 8 anos de influência nos destinos de Goiás. Em 2026, o desafio é ganhar uma eleição com candidato próprio, algo que não acontece desde 1994, quando Maguito Vilela foi eleito governador.
O PMDB ou MDB “manda-brasa” da época da ditadura, é, ao lado do PT, o partido que mais disputou eleições para governador em Goiás. Os emedebistas venceram quatro eleições (1982, 1986, 1990 e 1994) e ficaram em segundo em seis pleitos (1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018) e em 2022, elegeu o vice do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), no caso, Daniel Vilela (MDB), que deve ser o candidato à sucessão governista em 2026.
O PMDB/MDB foi decisivo na eleição de Ronaldo Caiado ao Senado em 2014. Sem os votos emedebistas Caiado teria perdido a disputa para Vilmar Rocha (PSD), que teve o apoio da máquina do governador Marconi Perillo (PSDB) naquele pleito. Basta ver os votos de Caiado desde 1990, ano de sua primeira eleição para deputado federal e comparar com a sua votação para o governo do Estado em 1994 (quadro abaixo). Caiado saiu de uma média de 5% dos votos para deputado federal para saltar a 47%, após o “intindimento” de Iris Rezede, que o levou ao Senado com os votos do MDB. Para governador (2018 e 2022) o voto emedebista foi novamente decisivo.
Da mesma forma, sem o racha do partido em 2018, quando uma ala apoiou Caiado e outra ficou com o então deputado federal Daniel Vilela, Caiado não teria sido eleito governador. Se o PMDB/MDB tivesse ficado unido, provavelmente o segundo turno seria entre Daniel Vilela e Ronaldo Caiado, e aí o resultado poderia ter sido outro completamente diferente, considerando a amizade entre Maguito Vilela e o governador Marconi Perillo, que provavelmente liberaria os votos para eleição de Daniel.
Em 2026 o desafio para Daniel Vilela será acordar este gigante que ficou meio adormecido, meio sufocado pelo caiadismo.
Explico.
Caiado, repetiu no poder, aquilo que Marconi fez ao seu tempo. Quando foi eleito governador em 1998 o partido de Marconi, o PSDB, era minoritário em número de deputados e prefeitos em relação às legendas que o apoiaram (PPB, PTB, PFL). Ao final de seus quatro mandatos, o PSDB era um gigante e as demais legendas tornaram-se nanicas.

Neste período caiadista o MDB encolheu. Perdeu a prefeitura de Goiânia e nem sequer indicou o vice de Sandro Mabel (União Brasil), e embora tenha mantido a prefeitura de Aparecida de Goiânia isto se deve mais ao carisma e força eleitoral do ex-prefeito Gustavo Mendanha (e aos erros absurdos do Professor Alcides) do que à influência do MDB ou do próprio governador Ronaldo Caiado naquele pleito.
Caiado, aliás, não foi decisivo sequer na eleição de Sandro Mabel em Goiânia. Até os postes da Avenida Pedro Ludovico, que circunda o Palácio das Esmeraldas, sabem que sem o apoio do PT no segundo turno, Mabel não teria sido eleito prefeito da Capital, pois dos cerca de 164 mil votos que Mabel cresceu no segundo turno, 80% foram dos eleitores dos partidos progressistas (PT, PC do B, PV, PSOL, UP, PDT).

Por enquanto, Daniel Vilela caminha sem adversários. Ainda não está claro se o senador Wilder Moraes (PL) e o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) serão candidatos ao governo de Goiás. Sem eles na disputa, Daniel Vilela virtualmente irá vencer a eleição por W.O., ou seja, não terá adversários à altura. Mas, como já dizia Tancredo Neves, “política se comporta como as nuvens, você olha para o céu, e não tem nuvem, você olha de novo, já está cheio de nuvem”.
Para não correr riscos, Daniel Vilela tem como dever de casa reforçar o MDB para as próximas eleições, e isto implica em visitas a todos os presidentes do partido nos municípios, no lançamento de uma chapa emedebista competitiva para a Assembleia Legislativa e para Câmara Federal e na reaproximação com aquelas lideranças que ficaram melindradas no pleito de 2018.

O sentimento da militância do PMDB/MDB é que de 2018 para cá teve muito caiadismo e pouco emedebismo, e quem conhece a política nos municípios de Goiás sabe que PSD e UDN não se misturam, podem até ficar juntos em situações especialíssimas como a construção de Brasília, ou na eleição de Juscelino Kubistchek ao Senado por Goiás em 1962. Mas é só.
O PMDB/MDB, nos seus períodos de mando revelou grandes quadros ocupando secretarias de governo, mas nestes anos caiadistas os emedebistas ficaram do lado de fora, olhando de longe e chupando o dedo.
Vencer, e ajudar a governar, pode ser a motivação para “enfoguetar” os “manda-brasa” no Estado.